A autonomia da poética contemporânea contida na obra de Adriana Varejão propõe que a testemunha possua uma independência caleidoscópica de reconstrução que passa pelo campo da materialidade e da dimensão simbólica. Sua obra diz respeito não apenas a pertinência da sua contemporaneidade, mas também por tratar-se de um corpo de obra singular que participa de um tempo isolado, de uma arte transfigurada. Varejão Frequentou a Escola de Arte visuais do Parque Lage nos anos 80, como aluna dos cursos livres. Sua primeira individual foi em 1988 na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro. Em 1989 participou com destaque da mostra coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, que depois itinerou para a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Todos os caminhos se cruzam na obra de Adriana Varejão e essas trocas e migrações, por sua vez, tem como ponto comum o referencial artístico e cultural da trajetória de solidificação do território brasileiro a partir dos traumas da expansão colonial. Todos os movimentos das suas obras são pendulares e polissêmicos, possibilitando uma análise extremamente complexa que retira o observador de uma zona específica e o transporta para outras profundidades, em outros mares. O trabalho de Varejão opera nas fronteiras iconológicas advindas da cultura visual e da história da arte, como aquilo que o crítico Paulo Herkenhoff designa como uma migração de imagens. A artista estabelece um diálogo contínuo com o tempo e o espaço no qual fecunda-se um intercâmbio agressivo que se desdobra na reconstrução crítica da singularidade da identidade brasileira. O espaço de representação pictórica proposto por Adriana possui como base o barroco colonial através das azulejarias do Brasil quinhentista. Os hiatos entre colonizador e colonizado, profano e sagrado, confronto e encontro, carne e pele, terra e mar, cópia e originalidade são o laço de sentido da sua obra. É no espaço entre que a sua poética encontra uma voz clara. O historiador da arte Ernst Gombrich afirma que as obras muitas vezes devem mais a outra realidade que a própria, ele diz: “As telas falam entre si”, sob essa perspectiva a capacidade de conclusão, de um sentido finito, é aniquilada. É nesse lugar que ao invés de Varejão colocar um ponto final ela coloca vírgulas. A azulejaria, por sua vez, assume nas obras uma posição viajante que altera-se constantemente, mudando de propósito a cada lugar que atraca e permanecendo, assim, em um lugar fora do tempo por reinventar-se constantemente.