Ana Vitória Mussi é um arauto da investigação fotográfica em campo ampliado no Brasil, quando o termo foto-arte foi cunhado o seu trabalho já estava circulando há muito tempo. Uma das primeiras artistas do Brasil a realizar explorações na vídeo-arte, Mussi optou por retirar as imagens do encadeamento temporal do vídeo fazendo-as ressurgir como um corpus fotográfico híbrido, interrogando os modos de aparição e desaparição da imagem. Ana Vitória Mussi atribuiu à censura do período da ditadura empresarial-militar no Brasil novas dimensões, como uma poética de resistência, sobretudo a partir dos seus vínculos com o foto-jornalismo. A expansão experimental propiciada por ela, na segunda metade do século XX, envolve a discussão sobre as contradições inerentes da sociedade brasileira que, embora díspar, prospera na polifonia cultural reunindo precariedade e vivacidade. Sua produção artística, embora ancorada pelas contingências desse período, é uma declaração visual do espírito combativo aos tempos de subversão de direitos civis e massacres constitucionais. Mussi, através do uso recorrente do preto fala de um luto político, coletivo. A artista pertence a um tronco de atuação crítica face às tendências internacionais, ao cerceamento das liberdades individuais, às instituições oficiais de arte e às novas mídias e seu profundo carácter experimental é testemunho da participação do gênero feminino na "Arte de Guerrilha" advinda da geração Concretista, e do grupo da Nova Objetividade. Seus trabalhos pulsam para além da sua atitude de resistência definindo-se por ramificações impulsionadas pela construção de subjetividades amplas e como testemunho poético do seu tempo.