Brasil Terra em Transe - A arte actual brasileira

Carlos Zilio

Rio de Janeiro, RJ — 1944

A produção multifacetada de Carlos Zilio acompanhou os maiores desenvolvimentos e correntes da arte no Brasil. Todos os experimentalismos dos anos 60 e 70 estão expressos na sua produção. Zilio fez parte de uma geração que estava engajada em realizar obras de contestação a partir da década de 1960. Suas obras são limítrofes, radicais, combativas e realizam vigorosas reflexões e incisões sobre episódios de prisão, exílio, tortura, coerção e toda a realidade opressora que circundava o cenário social durante a ditadura empresarial-militar brasileira (1964-1985). Como o próprio artista debate no texto “O boom, pós-boom e dis-boom” publicado no jornal Opinião em 1976: “Está patente que as linguagens emergentes com os anos 70 não pretendem tanto — como as vanguardas do início do século — promover rupturas formais, e sim construir um ponto de vista diferente acerca da arte e sua inserção cultural e ideológica.”. O contexto do esgotamento do repertório formal, por sua vez, desdobrou-se nos novos meios de produção imagética: o vídeo, a fotografia, o postal, o xerox e o cinema germinaram como eixos experimentais e conceituais inequívocos. No Brasil, as fontes de alimentação e inovações dos experimentalismos advinham desde as contestações da juventude ianque e europeia — o militarismo, a cultura de massa, a televisão, a bomba nuclear, etc. Tudo isso está presente na obra de Carlos Zilio. O mergulho de sua produção na pintura de telas, sobretudo a partir do motivo do tamanduá, foi um processo de investigação plena acerca das vanguardas na qual o artista passou a combater, não mais a ditadura brasileira, mas sim a ditadura da própria pintura e as distâncias criadas entre ser e representar. Tornou-se necessário indagar e desconstruir o suporte, refletir sobre o lugar da tela, subvertendo hierarquias e trabalhando o que é eminentemente pictórico. Como menciona Yves-Alain Bois: "Ao definir o prazer da pintura como guardião de sua tumba, as telas de Zilio, silenciosamente, fornecem uma resposta bastante eficaz, no final do nosso século, à própria questão da necessidade da pintura."

Sobre

Biografia

Carlos Zilio

Rio de Janeiro, 1944

Vive e trabalha no Rio de Janeiro

Estudou pintura com Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Participou de algumas das principais exposições brasileiras dos anos 60, “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira”, ambas no MAM do Rio de Janeiro, bem como de inúmeras mostras coletivas, como as 9ª, 20ª e 29ª edições da Bienal de São Paulo (1967, 1989 e 2010); a 10ª edição da Bienal de Paris (1977); e a 5ª edição da Bienal do Mercosul (2005).

Na década de 1970, morou na França, onde se doutorou em Artes. Desde o retorno ao Brasil, em 1980, participou de inúmeras mostras. Dentre as diversas exposições individuais, destacam-se “Arte e Política 1966 – 1976”, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia (1996 – 1997); “Carlos Zilio”, no Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro (2000), que abrangeu sua produção dos anos 90; e “Pinturas Sobre Papel”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro (2005), e na Estação Pinacoteca de São Paulo (2006). Suas mais recentes exposições coletivas foram: “Imagine Brazil” (Oslo, Lyon, Doha, São Paulo e Montreal, 2013 – 2015); “Possibilities of the object – Experiments in Modern and Contemporary Brazilian Art” (Edimburgo, 2015) e “Transmissions: art in Eastern Europe and Latin America, 1960 – 1980” (MoMA, Nova Iorque, 2015).

Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio organizado por Paulo Venancio Filho, sobre sua produção artística. Zilio é representado pela Galeria Raquel Arnaud desde 1997. Seus trabalhos estão presentes em diversas instituições, como os Museus de Arte Contemporânea de São Paulo, Niterói e Paraná, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e São Paulo e no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Biografia

Textos

A querela do Brasil: A questão da identidade da arte brasileira

Carlos Zílio

Entre o susto e o signo: os tamanduás de Zilio

Luiz Camillo Osorio, 2011

A ambição e a modéstia do prazer

Yve­ Alain Bois, 1996