Fernanda dedica a sua atenção para o que é minúsculo, irrisório, desprezível. Realça, assim, o imperceptível, dando-lhe um lugar destaque, mesmo que temporário. Há uma relação mútua de invisibilidade entre suporte e objeto que se desdobra em arquitetura delicada, atravessada por uma pretensa precariedade visual. A potência distribui-se na harmonia gestada pela artista ao compreender a memória inerente as estruturas. Tudo vibra, pois, na verdade, a inércia é uma ficção. Para a curadora Ligia Canongia, "Fernanda Gomes dirige sua atenção para os pequenos formatos. Escolhe os objetos cuja 'insignificância' seja tão obvia que acabe por realçar ou promover a níveis máximos a sua redenção no âmbito da arte. Objetos pequenos, por vezes minúsculos, gastos e usados, despersonalizados por um consumo mecânico e desatento, tornam-se, no universo da preservação fantástica e imaginária da artista, verdadeiras relíquias. E o próprio termo relíquia confere um senso de raridade e preciosidade ao objeto 'apropriado', originalmente desprovido de qualquer interesse, gerando aí o grande paradoxo do trabalho".