Brasil Terra em Transe - A arte actual brasileira

Juliana Notari

Recife, PE — 1975

Juliana Notari fala em sua obra sobre invasão. A violência irmanada com a morte de intervir em estruturas, sejam bióticas ou não. A busca é pelas vísceras, restos. Sua pesquisa insere-se na possibilidade de rasgarmos peles, arrancando conteúdos a serem absorvidos e, moto continuo, reprocessados. Seja pelo sistema digestório, como ocorre na Videoinstalação “Mimoso” (2014) , em que a artista ingere o testículo crú de um búfalo, castrado poucos minutos antes, ou através do instrumento ótico do observador, como se dá na performance Dra. Diva, onde abre uma fenda em forma de vagina na parede de uma galeria, lava-a com sangue de boi, introduzindo uma espécula de aço inoxidável. São estes equipamentos médicos utilizados pela medicina para observar o interior dos nossos corpos. Quando aplicados ao cubo branco, a artista convida-nos a deglutir os processos afetos ao mundo da arte. Na verdade, a vida constitui-se em ato continuo associado a deglutição e, via de regra, ela própria nos devora, transformando-nos metáfora do processo. É o caso da videoperformance “Soledad” (2014), onde vemos Juliana vestida de branco, lavando um mausoléu e as ossadas ali presentes. Após concluir meticulosamente a faxina, devolve à urna os elementos e vai embora. Não sabemos o sexo do esqueleto, mas isso, de fato, não importa, pois não há mais corpo em movimento. O perigo encontra-se fora e apesar dos aparentes mecanismos civilizatório, tem-se que saber por onde caminhar. Na performance Symbebekos (2002), Juliana abre caminho por um “mar” de cacos de vidro, conseguindo chegar ao fim da jornada apenas com alguns cortes nos pés. Uma metáfora do que é ser mulher em um pais marcado pelo patriarcalismo misógino e indecente. Sobre Symbebekos, escreve Carlos Lopes: “Atenta para a condição de existência do homem nas sociedades contemporâneas, Juliana realiza uma crítica às situações de vida. Apresentando seu corpo e o tempo desse corpo num processo quase onírico de desconstrução histórica e ritualística, onde a realidade é fraturada e exposta ao público. Na performance “Symbebekos”, Juliana N. anda por entre cacos de vidro espalhados no chão. O percurso que traz, a priori, relações do significante com rituais de passagens de sociedades primitivas, é menos um regaste desses do que sua própria desconstrução. E como é sugerido no próprio título da obra, a noção de causa acidental (symbebekos) permeia a performance, tanto na sua concepção quanto nos seus desdobramentos”.

Sobre

Biografia

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Juliana Notari

Recife, PE - 1975

Vive e trabalha entre Recife, Rio de Janeiro e Belém.

Artista, doutoranda e mestre em Artes Visuais pelo PPGARTES/UERJ, é graduada em Artes Visuais pela UFPE (2003). Nos últimos seis anos vive e trabalha em Belém, PA, Rio de Janeiro, RJ e Recife, PE. Artista e pesquisadora na área de Artes, trabalha com as mais diversas linguagens (instalações, performances, vídeos, fotografias, desenhos e objetos) com abordagem multidisciplinar. A sua pesquisa visual tem criado um corpo de trabalhos que encaram suas singularidades, transitando por entre a biografia, o confessional, a catarse ou práticas relacionais.

Com ênfases e modos de operação diversos, traumas, desejos, fantasias e medos são recolocados em suas obras instaurando relações entre subjetividades que, por sua vez, configuram o eixo central da obra da artista.

Notari participou de exposições nacionais e internacionais, recebeu prêmios, realizou residências artísticas e possui trabalhos em coleções públicas e privadas. Dentre os quais podemos destacar: artista finalista do 7º Prêmio Marcantonio Vilaça, 2019, nomeada para o Prêmio PIPA 2018 e 2019; Prêmio do Salão Arte Pará em 2014; Prêmio Funarte – Mulheres nas Artes Visuais em 2013; Prêmio Bolsa de pesquisa no Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco em 2004. Suas principais exposições individuais incluem: “Desterro: enquanto eles cresciam”, Museu da Cidade do Recife (PE, 2016); “SORTERRO Cap. 5”, Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães – MAMAM (Recife, PE, 2014); “Rire pour Moi, 2009, Galeria da École Supérieure d’Art d’Aix-en-Provence (França, 2009); “REDENTORNO, Galeria Vicente do Rêgo Monteiro, Fundação Joaquim Nabuco – Fundaj (Recife, PE, 2008); “Diário de Bandeja” Galeria Amparo 60 (Recife, PE,

2008); “Symbebekos”, Galeria Fayga Ostrower, Funarte (Brasília, DF, 2004). Das exposições coletivas destacam-se: 37º Salão Arte Pará [Artista Convidada] – Museu UFPA (Belém, PA, 2018): “Bienal Del Sur: Pueblos en Resistencia”, Museu de Belas Artes de Caracas (Venezuela, 2015); “Transperformance 2 – Inventário dos Gestos”, Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro, RJ, 2012); “Metrô de superfície”, Paço das Artes (São Paulo, SP, 2012); “Festival Performance Arte Brasil”, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM (Rio de Janeiro, RJ, 2011); “Tripé/Escrita”, SESC Pompéia (São Paulo, SP, 2010); “Rumos Itaú Cultural de Artes Visuais (São Paulo, SP, Rio de Janeiro, RJ e Salvador, BA, 2009); “Territoires Transitoires”, Palais de la Porte Dorée (Paris, 2005); “O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira”, Itaú Cultural (São Paulo, SP, 2005).

Possui trabalhos em acervos particulares e institucionais, a exemplo do Museu de Arte do Rio – MAR (Rio de Janeiro), Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães –MAMAM (Recife,PE), Coleção do Banco do Nordeste – CCBNB (Fortaleza, CE), Fundação Rômulo Maiorana (Belém, PA), Museu da Universidade Federal do Pará (Belém, PA), Fundação Cultural GUEES (Los Angeles, EUA).

Biografia

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