Sonia Andrade foi uma das pioneiras da videoarte no Brasil que, nos anos 70, situou a experiência brasileira no cenário internacional. Chegando a participar de exposições coletivas nos Estados Unidos da América, como no caso da mostra Video from Latin America no Museum of Modern Art de Nova York. A video-arte brasileira possui uma singularidade decorrente do confronto com a invasão e difusão de imagens de massa midiáticas que passaram a governar o imaginário identitário e temporal dos brasileiros. Sobretudo ao somar-se como elas atuavam velando a violência inerente do período pós AI-5. No entanto sua produção não se basta apenas pela investigação da video-arte, como ressalta Fernando Cocchiarale: (...)”Desde o início de sua carreira, há quase trinta anos, como uma bricoleuse ela se apropriou de objetos, cartões-postais; usou o desenho, a caligrafia, imagens fotográficas e vídeo. É, pois, uma artista cuja obra não pode ser associada a um único meio, ainda que nos últimos anos tenha mostrado, sobretudo, videoinstalações”. Trata-se de uma artista múltipla que é incontornável não apenas pela trajetória e produção, mas também pela sua relevância fundamental e concisa que perpassa diversos momentos de evidente importância para a história artística do Rio de Janeiro e do Brasil. Andrade, através de seus vídeos, confronta a potência midiática invasora, sintomática da prosperidade do pós-guerra, aproximando-se de narrativas conceituais que se transmutam em gestos banais poéticos e movediços. A sua produção rizomática caminha pelas possibilidades geradas por muitos suportes: a escrita, o desenho, o objet trouvé, a fotografia, a arte postal, a performance, etc. Sonia Andrade foi uma das artistas da geração de 70 que deixou de lado a arte-objeto retiniana para trabalhar e protagonizar o ambiente e a mobilidade de formas variadas. O outro, o espaço, o corpo, o gesto e a palavra agregam-se em consonância para uma criação pictórica que diluí as dimensões de interioridade e exterioridade. O sentido performativo na sua obra se circunscreve umbilicalmente ao papel do vídeo e a fotografia no campo artístico. Em seus trabalhos percorrem reflexões sobre as questões de gênero, sobre o vazio, o desejo da totalidade do outro, a temática da dor, questões identitárias e os debates formais da arte. Há manifesta uma dimensão de confinamento em diversas obras. Essa sensação de clausura e gestos restritivos estão inevitavelmente atrelados a uma crítica do papel de género e de um projeto ético-político, como uma resistência simbólica inerente ao seu discurso e contexto. Os gestos em suas obras recorrentemente estão flanqueados pela subordinação, pelos limiares, pela esfera da intimidade, pelo desejo de comunicar e pela sensorialidade. Do minimalismo ao conceitualismo, da performance a fotografia, sua obra perpassa os grandes movimentos artísticos que marcaram o século de modo profundamente pessoal e inventivo, criando um vocabulário único sem perder seus referentes. O espaço das suas obras é um espaço de projeção e introspeção, essencialmente reflexivo e atrelado ao corpo, de fora e de dentro.