O trabalho de Aline Motta transcorre por entre a memória, a intimidade, o território e as histórias afro-diaspóricas do Brasil. Há evidente uma dupla via em seu trabalho: Uma de busca, afirmação, alteridade e reconhecimento e outra de introspecção, arqueologia e ancestralidade. Entre passado e futuro, ausência e presença, fronteira e encontro trafegam as imagens, fotografias, curtas-metragem e ensaios da artista. Toda ambivalência que advém da sua procura em relação a própria história familiar demonstra nitidamente como é ferida aberta as chagas do colonialismo na sociedade brasileira. Aline Motta articula de modo incrivelmente fabular a realidade das violências de sua procura com a docilidade que resiste através dos afetos humanos, do encontro e da memória. Uma memória pessoal que está imbricada nos movimentos da história de muitos. Seu trabalho como o percebemos, o qual muitas vezes envolve diversos experimentalismos, como a animação ou a land-art, é apenas uma parte de um processo profundamente complexo de investigação plena. Parte artista, parte historiadora, Aline Motta cumpre uma dimensão processual em suas procuras justamente a partir de um trabalho incansável de arquivo, escuta, oralidade, deslocamento e edição. Como pontua Moacir Dos Anjos “Não se trata, para a artista, de simplesmente apresentá-los como descoberta documental. Mas de criar estratégias audiovisuais que possam equivaler a eles como coisa sensível.” Aline diz: “O que gostaria que a minha obra reverberasse é que todos estão implicados, que todos deveriam fazer parte da luta antirracista, não apenas os negros. O que descobri sobre mim é que, para trabalhar questões coletivas, precisei fazer um mergulho muito pessoal e íntimo. Ainda que sentisse medo, deveria continuar. Ainda que não soubesse nem como começar, não poderia me dar ao luxo de desistir. Apesar de a arte ter um alcance restrito, ainda é uma forma de resistir e dizer que não nos esquecemos.”